Se você não é assinante dos serviços pagos da Apple (de todos eles, ao menos), faça uma experiência rápida: pegue seu iPhone ou iPad, abra aplicativos como o Música, o Apple TV ou a App Store e navegue por eles por alguns minutos. Notou algo de comum entre todos? Sim, há grandes chances de você ter se deparado com uma boa quantidade de anúncios dentro dos apps — a maior parte deles, inclusive, da própria Apple.
Considerando esse fenômeno (relativamente) recente, o desenvolvedor Steve Streza publicou no seu site um artigo com um argumento central, digamos, pesado: segundo ele, o iOS é um “adware” — ou, em outras palavras, um agente digital que exibe grande quantidade de anúncios ao usuário sem permissão.
Para sustentar o seu ponto, Streza cita seis apps nativos do iOS. O Música, por exemplo, tem anúncios aparecendo constantemente caso o usuário não seja assinante do Apple Music; abas como “Navegar” e “Para Você” não passam de propagandas de tela cheia do serviço, e se você assinar o Apple Music brevemente e depois cancelá-lo, a Maçã bombardeará sua caixa de notificações convidando-o a voltar para o serviço.
No caso do aplicativo Apple TV, temos propagandas do Apple TV+ por toda a interface do app, e programas originais da Maçã (que requerem a assinatura) são exibidos lado a lado com conteúdos acessíveis por meio de outras plataformas, sem distinção visual. Na App Store, temos os anúncios de aplicativos promovidos na busca, além de destaque para jogos do Apple Arcade — de fato, a aba do Arcade na loja é nada mais do que uma grande propaganda se você não assinar o serviço de jogos.
Streza cita ainda outros dois serviços não disponíveis no Brasil: o Apple Card, que tem propagandas permeando o app Wallet por toda a sua extensão, e o Apple News+, que “mora” dentro do aplicativo News e exibe anúncios persistentes no topo de determinadas matérias; certas reportagens simplesmente exibem uma propaganda do serviço quando tocadas, já que são acessíveis somente mediante o pagamento da assinatura (e não há qualquer indicação visual sobre isso). A postagem original de Streza tem vários outros exemplos, ilustrados, dentro dos apps citados.
Obviamente, há de se fazer uma distinção aqui: “adware” é um termo comumente associado a agentes maliciosos, que se alojam num sistema de forma indevida para exibir propagandas ao usuário. O iOS, claro, não é um agente malicioso em si — a Apple simplesmente está tentando fazer com que as pessoas assinem seus serviços, até porque essa é a categoria que representará o grande motor de crescimento da empresa num futuro próximo.
O que Streza argumenta é que, nessa tentativa, a Maçã pode ter pesado a mão e enfraquecido a experiência de usuário do iOS com essa profusão de anúncios. Como afirma o desenvolvedor:
Individualmente, a maioria desses casos não são insidiosos por si só. Mas quando você olha para eles de forma conjunta, vê um cenário de como a Apple está deteriorando a experiência dos usuários para potencializar seu crescimento a qualquer custo.
Como os serviços (pagos) da empresa deverão multiplicar-se e tornar-se ainda mais importantes nos próximos tempos, o cenário é preocupante: ou a Apple encontra uma forma mais elegante de divulgá-los ou corremos o risco de termos um iOS que explode em anúncios a cada ícone clicado, quase como aqueles sites de pirataria da década passada.
É bom que a Maçã tenha uma solução em mente antes que a coisa torne-se (ainda mais) insustentável. O que vocês acham?
via The Loop